Ponto G da Questão
"O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."Clarice Lispector
fevereiro 10, 2020
maio 22, 2015
Algumas pessoas apenas passam pela nossa
vida, deixam recordações transparentes e seguem na calçada da memória como uma
paisagem de rabiscos nas paredes. Outras, não importa o tempo da passagem,
criam cores fortes em momentos de arte gravados em nossa alma, numa bela
galeria de lembranças que sempre visitamos com um sorriso de rosto inteiro...
Detesto dias que se
seguem como roteiros de teatro. A rotina me irrita, boa ou ruim, me
irrita. Fazer repetido me faz preferir o ócio. Ócio leva à
reflexão, enquanto a rotina , esta, é como um vírus que mata
fingindo ser normalidade viver num eterno remake.
Filhos criados,
descobri que dá um enorme trabalho viver a própria vida. E que a
rotina vivida pelos outros é isenta de culpa, porque existe uma
indolência quase nobre em fazer pelos outros enquanto a sua vida
passa ao lado.
Ultimamente tenho tido
vontade de escrever ficção. Não há mais nenhuma maneira nova de
ver o antigo, esgotaram-se as novidades existentes, ficaram velhas,
repetitivas. O mundo está muito cheio de cabeças e cérebros, criativos ou não. Opiniões para tudo, todo mundo quer mostrar o
que pensa, expressar a sua maneira inteligente de ver isto ou aquilo.
Cansei de opinar, agora quero viajar na maionese.
Quem inventou a maionese? Foram os gregos. Na Grécia antiga , as vacas eram sagradas e não se podia tirar leite delas. Então, não havia manteiga para passar no pão...mas havia muitas galinhas, e botavam muitos ovos, e os gregos descobriram que batendo ovos, ao invés de leite, podia se obter um creme parecido com a manteiga das vacas sagradas, e as galinhas não eram sagradas. E assim surgiu a maionese.
Pena de Morte...?
Este ano o Brasil se deparou com uma
discussão que, a despeito da realidade brasileira que já aplica a pena de morte
todos os dias nas favelas do país, não era usual: a punição de um crime com a pena de
morte.
A discussão surgiu por causa de dois
brasileiros de classe média alta, brancos, que foram condenados à morte na
Indonésia pelo crime de tráfico de drogas: Marco Archer tinha 53 anos e foi
executado por fuzilamento em janeiro. Era carioca, nunca trabalhou, sempre foi
traficante e estava preso há 11 anos. Morava naquele País há 15 anos e sabia
que a punição para o crime que estava cometendo era a morte.Rodrigo Goulart
tinha 42 anos e foi executado ontem, em 28 de abril. Era Paranaense, ganhou um
restaurante de presente da família, mas não seguiu em frente com a carreira de
empresário. Preferiu surfar e traficar.Os dois foram processados, julgados e
condenados legitimamente. Os dois eram inquestionavelmente culpados pelo crime
pelo qual foram condenados. A Indonésia não ratificou nenhum tratado
internacional contra a pena de morte e esta conta com a aprovação de 70% do
povo de lá. Pelo princípio da territorialidade, todo Estado deve ser soberano
para aplicar a sua lei penal a todos os fatos ocorridos dentro do seu
território, independentemente da nacionalidade do criminoso.
Então, por que autoridades brasileiras e
representantes de direitos humanos se mobilizaram em prol da clemência para os
dois? Porque foi a primeira vez que um brasileiro foi executado em país
estrangeiro, e eram brancos, bonitos e de família rica. Além disso, o
posicionamento dos envolvidos do lado de cá se deveu não por um questionamento
da validade da norma em si, mas por um questionamento da validade moral de se
aplicar tal punição a um cidadão originário de um país sem tradição cultural de
pena de morte. Com a globalização, nenhum país está totalmente livre para
exercer a sua soberania sem levar em conta os apelos dos vizinhos
internacionais, e cabe ao nosso governo, como porta-voz da cultura e da
personalidade nacionais, expressar a sua indignação com uma penalidade que
desafia os princípios de civilidade contrariando uma verdade universal e
inquestionável, que é o direito à vida.
março 14, 2015
novembro 23, 2014
Informação é Conhecimento?
Nos caminhos do conhecimento viajamos com a informação por uma infinita estrada, cercada de paisagens que levam à reflexão. Atravessamos lentamente os túneis dos questionamentos, observamos com olhos atentos os sinais do bom senso e enfrentamos os cansativos e perigosos buracos das verdades desconfortáveis. E vamos chegando a destinos temporários, onde largamos o conhecimento alheio para acomodar o nosso próprio, reconstruído durante o percurso. Nem sempre estes destinos têm paisagens felizes.
Ao longo da viagem a estrada se abre e se torna cada vez mais clara, entretanto jamais termina.
Quem acha que terminou, na verdade chegou em uma espécie de casa confortável, construída num determinado ponto do percurso, com uma porta de saída para o caminho que continua. Um ponto de parada entre a decisão de seguir ou ficar.
Conheço viajantes repletos de informações, que percorrem os túneis em alta velocidade numa busca ansiosa pela luz rápida, ignorando os sinais e se desviando dos buracos. Nas paradas, distribuem felizes e seguros as informações copiadas pela memória e reproduzidas na íntegra, e vão pegando mais para empilharem naquelas já moldadas na pedra. Falar com essas pessoas é como ouvir um desses programas de computador que transformam texto em voz.
Conhecer nunca é possível sem a reflexão em sua infinitude real de possibilidades.
dezembro 04, 2013
Um dia de felicidade!
Para ter um dia de felicidade você só precisa pensar positivo e viver o hoje. Tem que fazer as coisas do jeito certo, ser politicamente correto, e trabalhar o
seu marketing pessoal a fim de atingir as suas metas e alcançar aquele sucesso que todos vão invejar.
Escolha uma boa roupa, aparência é tudo. Tome um bom café, porque a refeição da manhã é a mais importante e vai te deixar bem para o dia produtivo de trabalho que terá. Aquele trabalho que você não ama mas gosta, e onde você é bem sucedido e ganha um salário ótimo em relação ao mercado.
Nunca
saia de casa sem um seguro com uma boa cobertura, sempre com os vidros
do carro fechados, e preste atenção nas músicas que tocam no rádio, nas
notícias relevantes do dia, em tudo que você possa usar nas conversas
profundas que terá no almoço com os colegas do seu nível hierárquico, enquanto come
aquele prato bem colorido e balanceado, sem colocar os
cotovelos na mesa, é claro. Você até pode reclamar um pouco: daquela empregada doméstica que roubou uma calcinha na sua casa, dos flanelinhas, cracudos e vagabundos, dos fudidos que não correm atrás e vivem reclamando da vida. Palitar os dentes? Deus me livre! Só
no banheiro, e com as luzes apagadas! Pague a conta sem reclamar, com o
seu cartão internacional, e aguente o fiapo de carne até chegar ao
escritório e pegar o fio dental naquela necessaire que comprou no
aeroporto, numa daquelas viagens internacionais do álbum "Viagens
que eu fiz", que você publicou no Facebook. Aquela que você pagou em 12 vezes no cartão, e trouxe um Victoria's Secret para cada uma das suas 16 amigas mais especiais.
E não esqueça que você precisa ter uma atividade física, de preferência
Pilates, para ter aquele corpo firme e bem torneado.
Sempre saia no fim
de semana. Ficar em casa lendo é coisa de gente triste, e gente
triste é gente chata. Mereça o lugar que ocupa no mundo esbanjando sorrisos e entusiasmo. Estar bem e ser amado
mostra que você tem inteligência emocional. Você não precisa ter, basta
mostrar e já está bom. Se as pessoas acharem que você tem, inteligência,
dinheiro, saúde, sucesso, você nem precisa ter . Todos vão curtir você.
Com todas essas dicas inteligentes você ainda sentiu uma pontinha de tristeza no final do dia ? Não pense muito. Ocupe-se. Permaneça ativo. Vá caminhar. Pedale. Corra. Não seja um fracassado. Qualquer que seja o seu dilema, você só precisa descobrir a frase chave e colocar no Google. Escolha a resposta com mais estrelinhas e não se preocupe, seja feliz!
Com todas essas dicas inteligentes você ainda sentiu uma pontinha de tristeza no final do dia ? Não pense muito. Ocupe-se. Permaneça ativo. Vá caminhar. Pedale. Corra. Não seja um fracassado. Qualquer que seja o seu dilema, você só precisa descobrir a frase chave e colocar no Google. Escolha a resposta com mais estrelinhas e não se preocupe, seja feliz!
novembro 29, 2013
Encontro
Vi carinho e malícia no olhar
E o ouvir você falar
Fez o vento, num descuido de instante,
Deixar cores no som pelo ar.
Pluma tocando o meu rosto
Num som de entender pressuposto
Em que pude saber do seu toque,
Pelo simples ouvir do seu gosto.
Me tocou um nunca esquecer,
Abraço de sol ao anoitecer,
Abismo de sonho e desejos
Onde o vício, e a arte, é querer.
E o ouvir você falar
Fez o vento, num descuido de instante,
Deixar cores no som pelo ar.
Pluma tocando o meu rosto
Num som de entender pressuposto
Em que pude saber do seu toque,
Pelo simples ouvir do seu gosto.
Me tocou um nunca esquecer,
Abraço de sol ao anoitecer,
Abismo de sonho e desejos
Onde o vício, e a arte, é querer.
novembro 27, 2013
Cinco Verdades para Encarar Antes do Primeiro Encontro
1.Sim, ele vai notar se você estiver “um pouquinho
maior”.
Se vocês se conheceram naquele site onde tem aquela sua foto linda de oito anos
atrás e com dez quilos a menos, não pense que ele nem vai notar, ou que não vai
se importar porque você é uma pessoa especial e o que importa é a beleza
interior. Não deve ser bom marcar um encontro com a Juliana Paes e encontrar a
Preta Gil, por mais gostosa que ela seja. Ninguém gosta de ser enganado. O
máximo que pode acontecer é ele ser gentil e te despachar o mais breve
possível, e você virar personagem das anedotas que ele vai contar para as
outras nos próximos encontros.
2. Não faça questão de dividir a conta.
Pergunte delicadamente o valor, indicando
que pode dividir. Entretanto, se ele quiser pagar sozinho, não insista. Os homens
gostam de impressionar no primeiro encontro e não custa nada deixar o menino
ser gentil. E, se no dia seguinte ele for abduzido,
terá pago sozinho o custo de ser clichê.
3.Sexo no primeiro encontro, sim ou não? Esta é uma preocupação só sua.
A conversa foi inteligente, a energia foi contagiante,
ele tem uma boca linda e um magnetismo animal... e você está
meio carente. Transar ou não? Decida pensando unicamente em você. Não importa
se o cara cuida da mãe velhinha, ou ficou viúvo e cuida com amor de três filhos
, ou alisou a cabeça daquela cachorrinha vira-lata na rua. Um homem é sempre um
homem, e você não conhece direito o cara. As suas expectativas de futuro podem ser diferentes das dele, e desaparecer no dia seguinte sem nenhuma explicação é sempre uma possibilidade, com ou sem sexo. Pergunte-se: se ele não der sinal de vida amanhã como eu vou me
sentir? Se tiver a possibilidade de você se sentir culpada, ou usada, ou qualquer
uma dessas bobagens que a genética cultural colocou em nossos neurônios, não transe. É uma paranoia feminina que não significa muito para os homens mais inteligentes, mas é inegável que o preconceito existe. Por isso a decisão deve ser sua. Entretanto, se estiver segura do que quer , muito a fim, e o futuro não for relevante , aproveite a
noite. Ele não vai te respeitar menos
por isso. Pelo menos não se for um menino de valor.
4.Ele ligar no dia seguinte não significa muito.
A noite foi perfeita . No dia seguinte ele ligou para dar bom dia, disse que você é especial, até mandou flores. Depois foi se esvaindo no vento e... puff! Sumiu!
Uns ligam no dia seguinte para completar o que não rolou um dia antes, outros, apenas
por gentileza. Então, não
desligue o telefone e vá contando para a manicure, para as amigas, para o
diário, que finalmente encontrou o homem dos seus sonhos.
5.Ele sumiu? Você não vai descobrir o motivo.
Tudo foi muito especial, ele até
falou que ia te levar para fazer um voo duplo com aquele amigo que é instrutor
de parapente. Ou contou que a mãe era assim ou assado e ...”você vai ver quando
conhecê-la”. Não importa o quanto de
certeza você tenha de que ele está apaixonado, ou que ele seja lindo como um príncipe. Um homem sempre pode ser sugado por um buraco negro, ou virar sapo e voltar para o seu brejo, e quase nunca vai ter coragem de dizer adeus.
Então, se ele se diluiu, um ou três dias
depois, subtraia. Tem tantos motivos para ele ter sumido quanto
estrelas no firmamento. Pegue a agenda e
chame o próximo nome da sala de espera.
agosto 18, 2013
Repetição
Preciso me libertar de tudo que me impede o movimento. O porquê me imobiliza, e a falta de óculos também.
Aleatório. Movimento. Caos, Movimento. Aleatório. Acordei é o primeiro passo, esqueço o porquê e me ponho em movimento. O que merece é o que dá substância à vida, a inimiga do movimento é a preguiça com a ajuda do porquê. Se tem acento ou não? O que importa? A
única importância do acento em minha vida é a de descansar minha bunda, pobre
bunda, verdadeiro suporte do corpo em noventa por cento das existências.
Esqueça os pés, o que faz o universo
moderno caminhar é a bunda, que nos sustenta nas horas de trânsito, nas
horas do computador, nas horas das conversas com o analista, nas horas ameba em
frente a TV.
Às vezes eu simplesmente surto e preciso dar um tempo para mim.
O que me aproxima de mim mesma e o que me afasta?
O mar, escrever, noites silenciosas, algumas leituras, alguns filmes, solidão.
Meu trabalho, TV.
O que, genuinamente, me alegra e o que me deprime?
A natureza, minhas crianças, música, dançar, a Nina, alguns filmes.
Meu trabalho, contas para pagar, horas em frente à TV, ausência de movimento.
Uma palavra para a minha vida: REPETIÇÃO!
agosto 17, 2013
Mundo Real
Nossos olhos são fabricantes de pinturas. E assim a vida vai se colorindo. Hora como uma galeria de arte, hora como um museu de Bad Art. Olhamos pela moldura acreditando ser uma janela para o mundo real, mas não é. É apenas a interpretação da nossa alma num determinado momento, em busca de um centro, em fuga de um caos. A nossa imensa necessidade de definir a existência e fixá-la em cores gravadas, em imagens estáticas. Superestimamos o foco e subestimamos o caos. Porque o foco aquieta e direciona mais rápido, mas o caos...esse dá trabalho e faz a vida parecer uma pintura de Picasso.
julho 20, 2013
DNA da Minha Natureza
O que determina a minha essência, o DNA da minha natureza?
O que me é mais básico, talvez aquela característica primeira na alma intrauterina?
A reflexão.
Meu espírito vive concentrado em ideias, pensamentos, hipóteses,
realidades virtuais a partir de fatos incompletos. Em considerações
sempre, pareço desatenta para a percepção alheia, sobressalto-me com
presenças inesperadas quando chegam em silêncio. A reflexão é minha
qualidade mais básica, a célula-mãe da minha personalidade.
janeiro 11, 2011
Má Notícia
Acordei com um gosto cinza de horror . Meio desnorteada, observei a manhã pela fresta da janela e constatei-me viva. Mortos não devem ter janelas tão feias. Tanto faz meu corpo, minha alma ficaria feliz com a oportunidade de uma morte temporária. Não que fosse insuportável o peso que a noite anterior trouxera para minhas pálpebras, mas pressentia que não me encontrava no corpo como na manhã do ontem.
Estava outra, olhos estranhos no espelho, calma com ar provisório, sorriso impotente. Olhei-me no espelho, olhei-me no espelho, olhei-me no espelho...Como se nada mais houvesse a fazer além disso, ou meus pés fossem inúteis, ou não houvesse chão para andar, aonde ir. Ainda não sabia, neste momento, que seria esmagada pelo dia, que as horas passariam por mim com um sorriso de deboche e indiferença. Voltei para a cama e fui para o dia inteiro. Não pensei na dor e nem fugi da agonia, congelada numa coisa sem nome, num estupor que tinha o som estridente e lúcido de uma campainha de telefone. E a notícia viera como um machado a me rachar a testa . Depois das perguntas simultâneas espremendo o meu espírito, o que veio foi uma súbita morte pelas caladas, aquela sorrateira dos que ainda se julgam vivos, e seguem na ilusão incoerente de que, se o corpo anda há vida. Tanto faz. Na manhã seguinte ainda estaria na cama, respirando, mas aquela vida, aquela , jamais se levantaria dali.
outubro 09, 2009
Reflexo
Perco grande parte da vida me preocupando com bobagens. Estranho
descobrir que tanto tempo foi perdido num medo baseado em fatos que já
se foram e não têm que gerar emoções repetidas. Prisão baseada na
expectativa de um passado reprisado? Bobagem! Sentimentos e emoções não
ficam guardados em estoque, nascem em todos os segundos da vida,
inesperados e desconhecidos. Pensando bem, eu não tenho medo do
desconhecido, nunca tive, não muito. Meu medo é sempre de algo
recorrente. Ah, e morro de medo do tédio. Tédio de não ser útil para a
minha vida, de ser qualquer coisa que adormeceu representando um papel
que criaram para mim, qualquer coisa meio morta que vai se ajustando de
acordo com desejos que em nada são meus, são estranhos, exteriores, e não significam nada. Morro de medo de não ser nada além de um reflexo.
setembro 10, 2009
Um Momento Qualquer
Entre o esboço e a caricatura, vou pegar o meu dia e esculpir outra forma para usar amanhã. Posso criar sempre uma imagem inédita para um dia novo não ser plágio do que já se foi. Mas quase sempre dá uma preguiça de fazer...
Gosto de imaginar-me outra da que fui num momento qualquer, e imaginar que serei ainda outra num futuro similar. Criar, inventar, desconectar. Às vezes minha cabeça cresce e fica quase do tamanho do quarto, o sorriso do tamanho da cama!
setembro 09, 2009
Modernidade
A
vida virou um grande cenário magnético. De pessoas passamos a perfis,
não refletimos mais, twitamos ou postamos no face. E esperamos para ver
quantos vão “curtir”. No “mural” somos sempre felizes e bonitos. Sentimo-nos seguros quando o nosso amor nos assume no “status” e somos
parabenizados num “relacionamento sério”. Rompimentos se concretizam com
uma simples mudança para “solteiro”. E na solidão, nada de ligar para
um amigo e bater um papo, nada de sair para caminhar e sentir o ar da
vida. Basta entrar no face para ver quem está “on”, compartilhar algumas
bobagens interessantes e curtir alguma coisa, ou esperar que nos
curtam, com ou sem comentários...
julho 02, 2009
Sobre as Perdas
Sim, existem perdas na vida que são irremediáveis, sonhos que desaparecem a um milímetro do toque das mãos.
Havia um bolo sobre a pia de uma casa desconhecida, delicioso aos olhos tanto que virou vontade úmida. Feito por minha mãe, em algum lugar por ali só no meu saber. Inteirinho, coberto com um chantilly que chegava a dar paz no coração, recheado com um creme de cor intensa e doce, onde se podiam ver uns pedacinhos de nozes. Mas minha mãe estava por ali e a casa não era minha e o bolo estava inteiro. E de repente, no espaço de um olha pra lá olha pra cá, eis que um pedaço se foi.
Sim, chegou a minha hora. Ela ainda estava ali mas eu estava livre para seguir em um pedaço, desde que o pedaço tivesse um tamanho decente. Cortei bem devagarzinho, coloquei num pratinho de porcelana branca com o cuidado de recolher, para dentro do prato, as migalhinhas que iam ficando para trás. E, com o prato na mão, saí da casa para comer em paz como uma alucinada e sem espectadores. Alguns passos fora da casa e me perco no equilíbrio, o bolo cai. Como? E agora? Eu ia ter que voltar para pegar outro, ia ter! Mas iam pensar que eu comi e estava repetindo, quem ia acreditar que o bolo caiu sem testemunhas? Mas eu tinha que fazer e fui e fiz e logo já estava lá fora de novo com outro pedaço, que também correu para o chão e de lá me olhou debochado!
Tudo bem , ela agora estava ao lado da pia me olhando. Enfrentei. O bolo já no finalzinho. Peguei um pedaço bem pequeno, para não ser a última, sem olhar para os lados. E fugi para o meu tão sonhado momento de glória. Nem cheguei a atravessar a porta, tropecei em alguma coisa e o bolo foi embora voando com prato e tudo. Acostumada com o sofrimento de viver e desejar, fui para o último pedaço com um pouco de pressa. Dessa vez ia comer ali mesmo, no prato do bolo mesmo, sem tirar da pia. Ia comer! Com as mãos mesmo peguei a derradeira fatia e o aroma de baunilha me invadiu, e se perdeu numa campainha estridente.
- Bom dia amor! Te acordei? Só liguei para dizer que te amo e estou com saudades...
Nunca mais!
Entretanto, a Willemsen fica a apenas um quilômetro da minha casa e lá tem um de chocolate com morangos...!!
Havia um bolo sobre a pia de uma casa desconhecida, delicioso aos olhos tanto que virou vontade úmida. Feito por minha mãe, em algum lugar por ali só no meu saber. Inteirinho, coberto com um chantilly que chegava a dar paz no coração, recheado com um creme de cor intensa e doce, onde se podiam ver uns pedacinhos de nozes. Mas minha mãe estava por ali e a casa não era minha e o bolo estava inteiro. E de repente, no espaço de um olha pra lá olha pra cá, eis que um pedaço se foi.
Sim, chegou a minha hora. Ela ainda estava ali mas eu estava livre para seguir em um pedaço, desde que o pedaço tivesse um tamanho decente. Cortei bem devagarzinho, coloquei num pratinho de porcelana branca com o cuidado de recolher, para dentro do prato, as migalhinhas que iam ficando para trás. E, com o prato na mão, saí da casa para comer em paz como uma alucinada e sem espectadores. Alguns passos fora da casa e me perco no equilíbrio, o bolo cai. Como? E agora? Eu ia ter que voltar para pegar outro, ia ter! Mas iam pensar que eu comi e estava repetindo, quem ia acreditar que o bolo caiu sem testemunhas? Mas eu tinha que fazer e fui e fiz e logo já estava lá fora de novo com outro pedaço, que também correu para o chão e de lá me olhou debochado!
Tudo bem , ela agora estava ao lado da pia me olhando. Enfrentei. O bolo já no finalzinho. Peguei um pedaço bem pequeno, para não ser a última, sem olhar para os lados. E fugi para o meu tão sonhado momento de glória. Nem cheguei a atravessar a porta, tropecei em alguma coisa e o bolo foi embora voando com prato e tudo. Acostumada com o sofrimento de viver e desejar, fui para o último pedaço com um pouco de pressa. Dessa vez ia comer ali mesmo, no prato do bolo mesmo, sem tirar da pia. Ia comer! Com as mãos mesmo peguei a derradeira fatia e o aroma de baunilha me invadiu, e se perdeu numa campainha estridente.
- Bom dia amor! Te acordei? Só liguei para dizer que te amo e estou com saudades...
Nunca mais!
Entretanto, a Willemsen fica a apenas um quilômetro da minha casa e lá tem um de chocolate com morangos...!!
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